terça-feira, 7 de abril de 2009

EDUCAÇÃO "BOLÍSTICA"


Anos atrás tive um problema sério de saúde. Uma dor terrível que começava na região lombar e seguia até a ponta do pé direito. Recebi analgésicos para eliminar a dor e tive que fazer alguns exames para saber como estava minha coluna vertebral. Era o nervo ciático. A coluna estava bem. Além dos analgésicos, o tratamento incluiu repouso e algumas sessões de fisioterapia. Sarei.
Meses depois, tudo de novo. Mesmo diagnóstico e mesmo tratamento. Sarei.
E assim foi até que um fisioterapeuta abriu um atlas de anatomia, mostrou-me o que ocorria com a raiz do nervo, que estava sendo pressionada por encurtamentos musculares, e me receitou uma série de exercícios de alongamento para que eu fizesse todos os dias, de manhã e antes de ir dormir. Coisas simples, mas que faziam com que os músculos fossem alongados e deixassem de comprimir a região. Dor no ciático? Nunca mais.
Os exercícios de alongamentos musculares são essenciais para a musculatura. Antes e depois de exercícios físicos, do joguinho de futebol, ou de qualquer outra atividade, incluindo as aulas de Educação Física, são necessários os alongamentos. Onde aprendi tudo isso? Fora da escola.
Passei anos tendo aulas de Educação Física e jamais aprendi para que servem e como funcionam os nervos. Também nunca soube que os músculos precisavam ser alongados ou que posturas ergonômicas são fundamentais para nossa saúde. Aprendi a jogar bola, vôlei, basquete, futebol, futebol, futebol... Aulas de Educação Física. Aulas de bola. “Corram atrás da bola!”. “Chutem a bola!”. “Batam na bola!”. “Arremessem a bola!”. Bolas e mais bolas, anos a fio. E nada sobre o meu corpo, meu “físico”. Jogos com bola, isso sim aprendi.Aulas de educação “bolística”. Não jogo nada hoje. Nem basquete de que eu tanto gostava, nem o futebol que tanto tive de aprender. Mas ando, sento, deito, escrevo, digito, fico parado. E como devo agir com minha postura?Devo lembrar-me das aulas de Educação Física? De nada adiantaria...
As crianças nas escolas estão com problemas de coluna. Posturas inadequadas. Musculatura encurtada. Um teste simples, como ficar de pé e encostar as mãos no chão sem dobrar os joelhos, pode facilmente demonstrar como estão fisicamente os alunos. Não conhecem o próprio corpo nem os resultados do sedentarismo. Não são conscientes de suas posturas inadequadas nas carteiras escolares, nem da melhor forma de se movimentarem. Não sabem nada sobre ergonomia. E todos tem Educação Física. Obviamente que ela sozinha, pouco fará. Entretanto, sem ela tudo ficaria pior.
Poucos professores estão fazendo a diferença. São poucos que levam a sério o próprio curso que fizeram e ensinam seus alunos a terem saúde física em seus múltiplos aspectos.
A Educação Física está evoluindo, crescendo e se atualizando. Precisamos incentivar e exigir que todos os professores acompanhem a evolução. É preciso levar em conta todas as transformações sociais que induzem ao sedentarismo e à alimentação inadequada. É preciso ensinar não apenas no campo da teoria, os fundamentos para uma vida saudável. A mera informação tem se mostrado insuficiente para a alteração ou construção de comportamentos favoráveis à proteção e à promoção da saúde do educando, e cabe à Educação Física escolar a responsabilidade de lidar de forma específica com alguns aspectos relativos aos conhecimentos procedimentais, conceituais e atitudinais característicos da cultura corporal de movimento.
Não podemos ser simplistas e considerar apenas a saúde física, mas ajudar os alunos a construir vínculos significativos com os elementos de sua própria cultura, no campo dos jogos, brincadeiras, esportes, danças e outras manifestações culturais. Obviamente o objetivo desse texto não é o de aprofundar a discussão sobre objetivos, metodologias ou currículos da Educação Física escolar. Nosso objetivo é a revalorização tanto da Educação Física em si como do professor. Para isso, é preciso mudar.
Para isso, a escola precisa mudar. As aulas de educação “bolística” também.


(texto de Marcos Méier, Professor de Matemática, Psicólogo, Mestre em Educação. Revista Aprendizagem.)